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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Bookends

Simon & Garfunkel


Time it was and what a time it was it was,
A time of innocence a time of confidences.

Long ago it must be, I have a photograph
Preserve your memories, they're all that's left you.






Soundtrack: 500 Days of Summer.

domingo, 26 de dezembro de 2010

A parte que (nos) falta


Você teima em dizer que te atropelo com perguntas e opiniões, que não espero por uma brecha deixada numa reticência leve ou que conclua a sentença com o seu ponto final. Daí, fico pensando se não é mesmo assim que se constrói um diálogo, se é você que tem necessidade de pequenos monógolos intercalados ou se, na verdade, um diálogo nada mais é do que uma combinação daqueles dispostos um sobre o outro. Talvez, no seu raciocínio, seja preciso que cada um deles saiba onde se posicionar e que seria pecado mortal a intromissão de um no espaço do outro. O meu medo é que, avaliando conversas simples (ou complexas) dessa forma, seja provável que você avalie uma relação seguindo essa mesma lógica. 
Neste caso, cada um teria o seu espaço no parágrafo - logo ali, depois dos dois pontos e abrindo a sentença com o seu travessão. Ora! Prefiro construir algo junto. Já pensou como seria mágico se pudéssemos colocar uma palavra na frase da outro?
Ter o nosso dualismo numa coisa só. 

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vento ponteiro



Lá fora há um papel correndo na enxurrada, parece que vai longe. 
Lá fora há um sol lindo e laranja. Quente, parece me convidar. 
Mas há tanto aqui dentro, que já não sei se posso deixar tantas lembranças órfãs. Não acho que serei capaz de abandoná-las, elas já fazem parte de mim de algum modo - pra sempre. O sol não poderia simplesmente me queimar ou a chuva, que fosse, ela não poderia me carregar por aí? Hoje em dia, todo mundo incorporou essa coisa do make yourself e não posso, simplesmente, ignorar as convenções do mundo em que vivo. Se fosse possível, tenho uma boa lista de ideias das coisas serem feitas. 
De certa forma tudo já está correndo e me queimando. Nem todos os dias algo grande acontece e nem todos os pequenos acontecimentos fazem algum sentido, por mais queira encontrar vestígios das minhas fantasias na realidade. 
Como uma palavra que o vento levou devagarzinho pra bem perto do meu ouvido e depois foi assoprando, impregnando, lentamente, cada fonema na minha mente. Aquele mesmo vento propagador dos meus melhores momentos para o fundo da minha alma.  Mesmo quando ele era uma brisa gostosa e leve que nem balançava direito os meus cabelos, mas dava um frescor por todo o meu corpo. Ou quando ele ganhou força e até ensaiou uma pequena ventania. Fiquei desconcertada, lembro de ter-me arrepiado inteira com tamanha sensação de liberdade, mas não era nada que fizesse os papéis na mesa se perderem pela varanda em busca de um pouso distante. Talvez esse seja o momento de encontrar os quatro ventos. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cloudy

Coração quando começa a bater apertado é sinal de que tem coisa demais dentro. O amigo mais próximo aconselha comprar uma caixa de madeira envernizada (com duas demãos, pelo menos) e guardar o excesso em uma pilha simples. Há quem diga que de nada adianta, e que o melhor mesmo é separar tudo com divisórias altas e firmes. Lembrar sempre/Não pensar/Priorizar/Apenas em casos de emergência/Spam. Você pode compactar tudo, mas há sempre o risco de receber novos sentimentos para agregar num mesmo espaço e pode ser difícil reorganizar as pastas. Até porque é preciso considerar que alguns são tão enérgicos que tentarão mudar de categoria. É preciso estar atento - todo o tempo, todo o tempo. E, se ainda assim, o coração teimar em ficar apertado. Desista, a verdade é que não há receita de bolo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Free & diet

É bom que você saiba que eu me desgastei também, mas que não perdi a moeda de troca para me refazer inteira. Todos os dias me alimento um pouco do vento, das melodias, dos sorrisos alheios e do tempo. Me permito alguns excessos, vez ou outra, para não cair na rotina. É aí que eu me entrego às doses de você. Do seu modo, seriam todas homeopáticas, mas gosto de me lambuzar por inteira na sua voz, entorpecer-me no seu calor e me embebedar dos seus olhares. Cautela eu só incluo no cardápio nos dias santos e feriados, no resto, eu gosto é do 'bom gosto'. Segunda eu reservo uma porção de disposição; na terça me satisfaço com a motivação; quarta eu me permito uma cevada, que é dia de jogo e ninguém é de ferro. No mais eu deixo a quinta, sexta e sábado à vontade. Um pouco de tudo e sem aspartame. Domingo, como eu disse, reservo pra cautela.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O dia em que eu acabei com a piscina da minha lavanderia

Para quem quiser conhecer um pouco do meu lado cômico, confiram o post colaborativo para o Guia do Solteiro sem empregada, do meu amigo Ricardo Côrrea. 

Comentário do Ricardo: Minha gente: o blog do Solteiro, Sozinho sem Empregada está de volta e hoje vive um momento inédito. Pela primeira vez na história, aceitamos um post colaborativo. Trata-se de texto escrito pela Ana Clara Otoni, que conta suas agruras em sua casa. Prestem atenção em como a vida não é difícil apenas na green house. E confie no que ela disse sobre o veda rosca. Se você esqueceu, lembre-se deste post que fala sobre o importante item (http://solteirosemempregada.blogspot.com/2007/11/hoje-histria-curta-pois-o-tempo-curto.html). E desconsidere a última frase do texto dela. :)


Sou uma moça sozinha (embora more com mais duas meninas), solteira (com o namorado a 586 KM de distância) e sem empregada. Ou seja, não sou tão sozinha assim, nem solteira, mas o fato que interessa mesmo é que passo perrengues semelhantes, senão, piores que os do meu amigo Ricardo Corrêa. 
Depois de passar meses esquentando a barriga no fogão durante todos os dias úteis fazendo brigadeiros para vender na faculdade, finalmente, consegui juntar dinheiro para comprar a máquina de lavar da república. Na ocasião, contei com os trabalhos braçais e de comerciantes de outras duas rommattes. Mas, porém, todavia, contudo, o caso que venho contar não tem nada a ver com essa máquina. Até porque eu a perdi no jogo. Não, eu não sou viciada em drogas, tampouco em bingo de domingo da Afonso Pena. Mas com a saída das duas meninas que moravam comigo na república, eu perdi a máquina em um sorteio. Foi quando dei, talvez, o passo mais importante da minha vida: comprei a minha própria máquina de lavar. Que alegria imensa! O que senti se assemelha a isso aqui.
Bem, sem mais delongas...deixe-me contar a história que interessa. 
Com a chegada da máquina nova, fiz a instalação dela todinha...
Até aí, tudo bem. O problema mesmo foi a torneira que sai da área de lavar, que começou a pingar freneticamente, como que se rebelasse contra a nova parceira de cômodo, ou como que apontasse o seu desgaste de três décadas. (bem, isso é um exagero, mas a torneira já estava bem capenguinha mesmo). 
Depois de umas três meses de enrolação, finalmente, comprei a torneira nova para trocar. 
Foi quando começou o pesadelo. Para quem, como eu, não sabe, existem dois tipos básicos de torneiras a de 3/4 e a de 1/2. 
Eu sabia que a da minha lavanderia tinha uma entrada grossa, mas não me atentei para essa medida específica até chegar à loja de suprimentos eletrônicos e domésticos do meu bairro. 
Era um sábado ensolarado e não era uma boa ideia acabar com a piscina doméstica que a minha área de lavar tinha se transformado, mas eu precisava aproveitar a presença do meu namorado em BH para fazer o conserto da torneira. 
O moço da loja me explicou que, por eu morar em um prédio mais velho, era mais provável que a medida da torneira fosse a de 1/2. E que, caso não fosse, era só eu comprar um adaptador que daria certo depois. 
Comprei a torneira, e saí pela rua feliz e saltitante.
Chegando em casa, pedi ao meu namorado para trocar a torneira para mim e descobrimos que eu havia comprado a medida errada. E era  óbvio que, o moço não trocaria uma torneira já aberta do pacote. Então, perdi a chance de contar com o meu prestativo namorado, pois, na semana seguinte, ele já não estaria em Belo Horizonte.
Pedi que uma das meninas que moram comigo para comprar o tal adaptador. 
Depois de uns três dias, fui fazer o serviço. 
Torci o cano e a torneira até que eles saíssem na minha mão. 
Desenrosquei a torneira do cano, coloquei o adaptador e encaixei a torneira. YES! Tinha dado certo, pelo menos o encaixe foi perfeito. 
Porém, quando chegou a hora de juntar a torneira com a mangueira da máquina, percebi que havia alguma coisa errada. 
Constatei que haviam três peças da torneira sobrando, e, como diria o veterano desse espaço, não é um bom sinal quando sobram peças em alguma instalação. 
Então, percebi que na verdade não eram três peças, mas duas. Uma delas era a rodinha do refil da veda-rosca, mas eu JURO que parecia uma peça para encaixar torneiras. 
Fui novamente à loja e expliquei o meu problema pro moço. 
Ele me fez comprar mais um adaptador, uma veda rosca e uma resistência para o chuveiro. Pois é, uma resistência para o chuveiro. Nada a ver com a máquina, eu sei. Mas ele disse que talvez seria esse o problema que comentei sobre o cheiro de queimado e depois a água fria no chuveiro da minha casa. 
Mais uma vez, voltei para casa feliz e saltitante, cantarolando pela rua e sorrindo para os passarinhos....
Cheguei na área de lavar decidida. Tomei o cano com a torneira nas mãos e torci, torci, torci e torci para desenroscar os dois e nada. 
Bati no vizinho e pedi um alicate emprestado. Ele me disse "esse é daqui eu peguei emprestado do prédio mesmo, quando terminar devolve para o porteiro". Ok, sem problemas. 
Ou melhor, com problemas. Eu não conseguia desenroscar o cano que eu mesma tinha enroscado na torneira nem com reza brava. 
P da vida, fui até a portaria e pedi para o porteiro me ajudar. Ele também torceu, revirou a cara, pôs mais força e nada. Disse apenas "É, acho que essas peças estão coladas, viu". E eu expliquei que não, que tinha sido eu mesma a encaixar as duas coisas e que agora estava muito firme para soltar. Ele soltou um: "Foi você mesma quem encaixou isso aqui? Minha Nossa Senhora!!!"
Finalmente, o porteiro conseguiu desenroscar os dois objetos. Ele ainda me deu um conselho "você precisa daquele negócio, é, é, é...teflon". 
Eu: - "Ah, veda-rosca, né? Sim, sim...eu já comprei". 
OU SEJA, todo o problema deveu-se ao fato de eu não ter usado a bendita veda-rosca no encaixe do adaptador com o cano. 
Já no meu apartamento, não tive mais problemas. Encaixei um adaptador no cano, o outro na torneira e um terceiro na máquina de lavar e pronto!
A minha máquina de lavar estava prontinha para receber uma trouxa de roupas e isso não significaria mais "tarde na piscina da lavanderia". 

Então, vamos lá, o que aprendemos com esse post:

> As medidas mais comuns de torneiras são 1/2 (mais fina) e 3/4 (mais grossa). Quando for trocar uma torneira, verifique qual é a espessura do cano da sua casa. Tem sempre marcando na saída do cano. Assim, você evita todo o transtorno que eu passei. 
> Tenha sempre veda-rosca em mãos. (não isso não é um trocadilho infame) Veda-rosca é aquela fitinha branca que você passa nas extremidades da torneira e dos canos para fazer a ligação de um com o outro. Há pessoas que a chamam de teflon, embora eu só conheça um tecido com esse nome, enfim... 
> Nunca faça as unhas à noite e vá consertar a torneira da máquina de lavar pela manhã. (sim, é óbvio, estúpido, mas eu fiz...)
> Compre um alicate. Assim você evita ter que mobilizar o prédio inteiro atrás do equipamento pra você. Ok, no meu caso foi só o porteiro e o meu vizinho, mais ainda assim é chato. 
> Não é normal cheiro de queimado saindo do chuveiro. Você pode estar precisando de uma resistência nova. 
> Sempre desconfie de um cara que mora numa "green house".

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Na calçada pela manhã

Se eu sair cedo ainda encontro com eles. Cedo assim, 5h50. Basta passar um quarteirão e lá estão eles brilhando no canto sujo da calçada. O par, obviamente simétrico, não demanda trabalho a dona, pois o verniz os deixa com aquela carinha de novinhos em folha. Fico imaginando quanto pode durar o efeito. Afinal, todos os dias a dona está no ponto a espera do coletivo que vai saculejar até o trabalho. Eles parecem treinados para não perder o compasso. A dona ensaia ainda na calçada o tique-taque-tum num saculejo impaciente de quem aguarda uma jornada longa. De passo, em passo eles vão perdendo um pouco da salsa e se deixam levar pelo batuque. Acho que a cara da dona eu nunca vi. Só a deles mesmo. Talvez pelo brilho ou pela melodia que ecoam nas minhas manhãs. Eles me deixam mesmo encabulada, como pode sapatos assim tão pretinhos, tão limpinhos, ficar nessa alegria enquanto espera o ônibus? Pode até ser que com amor se explique. Sei lá, vai que tem um parzinho arrumado no assento ao lado da dona. Já pensou? Um compasso a quatro num coletivo lotado e ninguém dando bola pros pisantes enamorados. Nada, isso é conversa fiada. Eles devem se empolgar só por sair da caixa escura, sair do quarto se arrastando em plena madrugada fria e descer apressados pelas escadas do prédio da dona, contornar a esquina e correr para o ponto. Ah, a calçada. Essa é outra que deve esperar por eles e pela dignidade que trazem a ela, quando se acomdam em seu peitoril. O balanço deles contagia, apesar de irritar o moço enfezado com o cigarro do outro lado. De certo esse daí não gosta de madrugar ou tem pressa de chegar a algum lugar. Eu não, quando passo fico esperando o brilho deles iluminar a minha retina e o batuque animar o meu dia. Mas só dá certo nos dias em que saio cedo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pra lá dos ventos de agosto



Pode ainda faltar um mês para a primavera, mas já sinto o frescor das flores se aproximando. As cores mais vivas nas ruas, o perfume inebriante em todos os cantos e esquinas. Pode tudo não ser tão mágico como se anuncia nas propagandas e nas coleções de primavera-verão, mas pelo menos todos estão se esforçando para deixar as vitrines mais belas, mais vivas. É um pouco disso que a gente precisa quando tudo vai ficando cinza demais. Morno demais. Estático e errático como uma estátua de pedra-sabão numa cidadezinha do interior. As pessoas passam, olham e depois de um tempo já nem a notam mais. Vez ou outra alguém se lembra dela para dar uma referência, passar o endereço certo. É como aquela pessoa que você identifica por alguma característica, pois de tão apagada você nem se deu ao trabalho de decorar o nome. "Aquela do cabelo cacheadinho", "uma gordinha que senta naquele computador da esquerda", "o que vem sempre de boné azul". Qualidades poderiam ser destacadas em cores. Amarelo para a vivacidade, para aqueles que te recebem com um sorriso aberto, franco. Azul para quem tem a habilidade incontestável de nos relaxar, aconselhar. Fica o vermelho, o preto e o roxo para aqueles que querem tudo do bom e do melhor, aqueles que idolatram o luxo, que amam o poder. Não que sejam cores ruins ou maquiavélicas, apenas características que alguns têm em maior evidência. E quando a primavera vai chegando a gente encontra de tudo um pouco nas ruas. Uma mistura que chega a ser brega, mas que convence nas revistas. 
Da primavera eu quero mesmo só a liberdade para ser feliz. Quero poder apontar mil cores em mim e ter orgulho disso. Cansei de sentir o amargo de agosto, embora eu nunca tivesse o experimentado com tanta voracidade. Não quero mais essa temporada de ventos que atrapalham o cabelo e os destinos. Que muda tudo de rota, que faz as folhas caírem antes da hora e que despertam a tempestade em nós. 


PS. Foto de Ana Clara Otoni.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre a inércia alheia


Você ignorou a ligação, a mensagem e todos os meus pensamentos. Fato.
Provavelmente, quis reprimir toda a vontade que tentava corromper o "bom-moço" e, assim, evitar o perigo. Ou seria a verdade?
Não sei se você foi covarde ou se eu fui quem arriscou demais. Você deve nem achar, mas eu tenho muito a perder. Certas coisas a gente demorar pra conquistar, não são como aquele sorriso que você arranca dos meus lábios apenas com a sua chegada. Eu tô falando de coisas que você não compreende, não viu. Não tem. 
É por isso que deve pensar que estou correndo riscos por aí. Pegando escalas malucas, fazendo horários bizarros e desenhando seu rosto em outros lugares. Saiba que se estou, não deveria. As minhas aventuras são calculadas, ensaiadas até, eu diria. E, não, eu não acho que isso faça com que elas percam o frescor da surpresa. Mas, saiba que quando são frustradas, contabilizo meus sofrimentos, minhas angústias e cada risco em vão. Vou marcando tudo num caderninho, um dia mando a conta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Inabitável



"Eu era uma concha vazia. Como uma casa vazia, por meses sem ninguém - uma casa condenada - , eu era completamente inabitável. Agora havia algumas melhorias. A sala da frente estava em reformas. Mas era só isso - só um cômodo pequeno. Ele merecia alguém melhor - melhor do que uma casa em ruínas com um cômodo só. Nenhum investimento poderia me deixar funcional outra vez. "
Stephenie Meyer

domingo, 20 de junho de 2010

Sonhos, sonhos são.




Chegou sorrindo, me abraçou e ficou parado olhando longamente para cada gesto meu. Às minhas perguntas apenas um olhar moleque lançava, à minha irritação uma gargalhada leve, solta. Definitivamente, sabia como brincar com os meus sentidos. Me levou de um lado a outro da cama enquanto eu, envolvida em um sonho, sorria e amava. No meio da noite acordei incrédula. Como era possível alguém chegar tão perto estando tão longe? - pensei. Talvez não fosse um sonho, mas o lençol estendido do outro lado não deixava dúvidas de que eu estava só. Coragem ou covardia? Não sei. Mas, se apropriar do sonho de alguém de modo tão real é uma grande covardia, apesar de que admiro a iniciativa do assalto numa madrugada tão fria aos sentimentos mais íntimos do outro. O pior é que nem sei se o que me deixava zonza eram as indefinições dessa relação ou é só o meu estado sonolento entre os lençóis. O melhor mesmo é acordar com um sorriso no rosto e pouco a contra-gosto por ter despertado dos momentos incríveis que vivia minutos antes. Daí vem toda aquela sequência romântica de abraçar o travesseiro e ficar remoendo cada capítulo do sonho, reportando tudo aquilo à realidade, trazendo o sonho pro calor da minha manhã. Ah...


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Datando o amor





Impressionante como a gente internaliza datas. E não digo apenas daquelas que têm um personagem-tema, um papai-noel ou um coelho com ovos qualquer. Datas daquelas que mudam a nossa rotina, o cabelo e as compras. Datas que marcam uma nova vida, um novo amor e assim, de tanto marcar, vai tornando a data velha, o motivo caduco, mas a gente tá sempre lá pra soprar as velinhas, aplaudir com emoção ou dedicar um presente à alguém. A verdade mesmo é que celebração é sempre uma constante. Fico pensando nessas datas que envolvem o amor. Sim, porque o amor se comemora, se data. Algumas pessoas o vivem.Dizem até que é possível senti-lo, veja só. Há quem diga que ele às vezes vai embora. Que rumo toma será? Imagine só estar parado no ônibus e dar de cara com ele, dar um tapinha nos ombros, dizer "sumiu, hein?" e logo emendar um "Oh, esse é o meu"? Entrar no coletivo e sorrir contente por ter encontrado o amor bem, saudável, até mais bonito. Mas o engraçado mesmo seria perceber que ele não fez falta, ou que já arrumou um lugar pra morar e, por isso, pega outra rota, diferente da minha. É possível que algo assim aconteça com alguém e que a pessoa ainda date o encontro. " - Hoje, encontrei o amor na esquina." Eu, contudo, prefiro ser daquelas que acreditam que é possível vivê-lo. 

sábado, 22 de maio de 2010

Dreams come true




Sou eu quem te acorda, mas não sou quem o coloca pra dormir. 
Não pense que me acostumo com isso ou que talvez isso seja fácil pra mim. Não, não é. 
O que me conforta talvez seja saber que você, melhor do que eu, guarda detalhes da nossa história. 
Parte disso me alegra e dói. Alegra por ver que há algo tão vivo e latente em você quanto em mim. 
Dói porque sei que alguns dos milhares de quilômetros dessa nossa distância fui eu quem não quis rodar. 
Nessa noite, porém, farei diferente do que apenas mentalizá-lo em meus sonhos. Vou, enfim, cumprir a promessa de te ligar de madrugada, mesmo que alguém já o tenha colocado para dormir. Direi que estou com saudades que não aguento mais codificar nossas conversas e que pra mim nada mais importa que não seja reconstruir cada pedaço esquecido e guardado da nossa história. 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre um forte dilema




Às vezes me bate aquela vontade de ter um problemão. Daqueles que tiram o sono, fazem perder a conta do dia do mês, das horas. Do compromisso. Um problemão daqueles que fazem o cabelo cair, as unhas enfraquecerem e a gente murchar. Porque problema pequeno é chato. Desgasta. Ele não tira o sono de vez, mas fica martelando, pulsando na cabeça. Muda o humor, acaba com o dia pouco a pouco. Mas é assim: de-va-gar. Sem pressa ele vai consumindo sua paciência, seu viço, seu tesão. Vai amontoando tudo numa bolha. Problema é aquela coisa difícil de explicar, como quem derramou o suco na mesa ou como o colar da sua mãe arrebentou dentro do porta-joias. Problema assim que faz pensar, que é quase tortura. Cansa. É por isso que, vez ou outra, bate uma saudade de ter um problemão mesmo, daqueles. Perder a noção do juízo, sair por aí, encostar em um qualquer e desafogar cada um dos ranços num soluço de frases estúpidas. Gritar mesmo, botar pra quebrar. Ter os piores problemas do mundo, enfrentar uma batalha cada dia e ficar aí de bobeira esperando alguma coisa grande estourar. Depois sair catando pedaços, reunindo tudo numa caixa, jogar do alto do morro e ver a sua conquista rolar. 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sinto que o mês presente me assassina



Mário Faustino
Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nasceram mudas
E o tempo na verdade tem domínio
sobre homens nus ao sul das luas curvas.
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-me a sina)
Há panos de imprimir a dura face
À força de suor, de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos.
O tempo na verdade tem domínio
Amen, amen vos digo, tem domínio
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino.





Era uma tarde que já ia morrendo e enquanto aguardava o ônibus que havia se esquecido do ponto, do tempo e dos passageiros, quando ouvi na coluna Devaneio, de Juca de Oliveira, este poema. É incrível a capacidade dos poetas, amantes e literatos em lidar com as palavras numa construção tão bela e própria. Gostei muito do que ouvi, espero que compartilhem. 

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre os brios da soberba



É difícil pre'u me despedir, sem nunca ter chegado. Sem ter percebido a capacidade de me acolher dos seus braços. Nunca ter me feito sua de fato. 
O mais complicado porém é confessar tudo isso sem dizer nada. É reconhecer que o meu orgulho me mantém parada e firme na minha completa arrogância.
É pior ainda não ter seu afago, aquele mesmo que eu nunca senti. Ou não quis. Pensar que nada mais justifica o seu bem querer a mim mesma, uma vez que sou eu quem pede para ser deixada. A palavra que mais admiro é muda: o silêncio. E é talvez por isso que eu nunca tenha sentido sua respiração quente, seu peito febril e seu amor incontrolável. 
Me perdia sempre no vazio, no meu mudo, surdo e calmo quarto. Enquanto você contava problemas, soluçava façanhas e eu com o olhar fixo no branco gélido da parede. Se eu pedir baixinho, se mendigar cura, se rezar todas as noites e você prometer que tudo isso passa, a prepotência, a insegurança, o medo e o vazio, eu juro que tento me entregar. Se me ajudar a vender, doar, erradicar todo esse orgulho que ruboriza, dá viço e tom a toda a minha petulância, juro que tento me entregar. Mas que fique claro, não poderei me despedir, falar ou prometer coisas assim vãs sem que tenha me mostrado o poder de seus braços. 

P.S.I.U: Esse texto foi produzido especialmente para o Impressões Digitais, da gentil Dani Pedrosa, em comemoração pelos 10.000 acessos do blog. Parabéns, Dani. Agradeço o convite, entre outras coisas, espero que você também possa contribuir com esse nosso espaço aqui. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cantando a alegria



Inspirada com o clima carnavalesco e com o fim da leitura da Chico! (edição especial da revista Bravo! à obra literária do meu amado Chico Buarque) resolvi brincar um pouquinho com as canções dele que remetem ao Carnaval. 


Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Quando o Carnaval Chegar, 1972, Chico Buarque. A música foi composta por Chico para o filme homônimo de Cacá Diegues. No elenco estavam Nara Leão, Maria Bethânia, Hugo Carvana, Antonio Pitanga, além do múltiplo Chico Buarque. 


Hoje, eu quero
Fazer o meu carnaval
Se o tempo passou, espero
Que ninguém me leve a mal

Amanhã ninguém sabe, 1966, Chico Buarque. O trecho que referencia ao título da música "amanhã ninguém sabe" refere-se a possibilidade do dia de hoje, a capacidade de se mudar o hoje e fazer uma festa, comemorar o carnaval. Já que "o amanhã ninguém sabe..."


E então
Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir

Cordão, 1972, Chico Buarque. A música está presente no álbum Construção que traz ainda parcerias de Chico com Tom Jobim e Vinicius de Morais e Toquinho.


Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Sonho de um Carnaval, 1965, Chico Buarque. A temática que Chico desenvolve nessa canção trata da efemeridade do carnaval (e em uma leitura mais profunda da própria felicidade), que termina com a Quarta-feira de Cinzas. 


Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Dura na queda, 2000, Chico Buarque. Música composta para o disco Carioca, porém a semelhança com outra canção sua "Ela desatinou" fez com que Chico ficasse receoso em colocá-la no álbum. Durante uma viagem a Londres ele encontrou com a cantora Elza Soares, que logo emendava um trecho dessa canção "Elzaaa desatinou..." Em outra ocasião, uma produtora pediu para Chico uma música para homenagear a cantora em um musical especial, com o curto prazo para compor e como ele nunca gostou de escrever em tais circunstâncias, ele se lembrou de "Dura na queda" e a entregou para que Elza gravasse a canção em 2002.A canção ficou conhecida também como "Ela desatinou 2". 


Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
Bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando

Ela desatinou, 1968, Chico Buarque. O fim do carnaval deixa o gosto de quero-mais, os ouvidos ainda ecoam a bateria e os pés ainda querem sambar, mas com a chegada da Quarta-feira de Cinzas, tudo acaba e tem gente que, de fato, desatina. 


Para ler mais sobre o Chico Buarque

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Propriedade

A agitação do seu sangue ao toque das minhas mãos me coloca em um estágio de excitação, como se me impedissem de andar descalça ou de recortar sistematicamente todas as propagandas de climatizadores de ar. Não há incômodo em dizer que a sensação não é de amor, nem de afeto. Apenas o egoísmo clássico que você anuncia em todas as discussões que por hora tivemos. Mas essa excitação focaliza todos os quatro sentidos num único propósito de te aprisionar. É aí que ensaio todo o planejamento para montar uma cela personalizada para o seu tamanho, em composição de vidro e com um sistema de vedação biométrico. As alterações que o toque em você me causam não são puramente orgânicas, causam um mal físico e individualizado. Não estou convencida se essa excitação provoca um comportamento venenoso ou, se é apenas uma alteração de humor passageira. Se pelo menos o seu gosto não me entorpecesse, eu poderia simplesmente abandonar a minha fixação por climatizadores de ar e desistir do sistema in vitro. A parte positiva do procedimento é que nenhum ser estranho poderia invadir seu corpo, afinal, apenas o meu toque romperia o sistema de vigilância. Porém, nem assim eu me daria por satisfeita. Reforço, a sensação não é de afeto, mas puramente de um prazer peculiar que só é aflorado com a observação da sua respiração seca, do seu olhar mudo e de sua rebeldia. Eu não oculto essa vontade primitiva de te consagrar como minha exclusividade. Queria mesmo era cravar meu nome em cima da sua alma e tornar legítimo dizer que você é sim propriedade minha.