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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vento ponteiro



Lá fora há um papel correndo na enxurrada, parece que vai longe. 
Lá fora há um sol lindo e laranja. Quente, parece me convidar. 
Mas há tanto aqui dentro, que já não sei se posso deixar tantas lembranças órfãs. Não acho que serei capaz de abandoná-las, elas já fazem parte de mim de algum modo - pra sempre. O sol não poderia simplesmente me queimar ou a chuva, que fosse, ela não poderia me carregar por aí? Hoje em dia, todo mundo incorporou essa coisa do make yourself e não posso, simplesmente, ignorar as convenções do mundo em que vivo. Se fosse possível, tenho uma boa lista de ideias das coisas serem feitas. 
De certa forma tudo já está correndo e me queimando. Nem todos os dias algo grande acontece e nem todos os pequenos acontecimentos fazem algum sentido, por mais queira encontrar vestígios das minhas fantasias na realidade. 
Como uma palavra que o vento levou devagarzinho pra bem perto do meu ouvido e depois foi assoprando, impregnando, lentamente, cada fonema na minha mente. Aquele mesmo vento propagador dos meus melhores momentos para o fundo da minha alma.  Mesmo quando ele era uma brisa gostosa e leve que nem balançava direito os meus cabelos, mas dava um frescor por todo o meu corpo. Ou quando ele ganhou força e até ensaiou uma pequena ventania. Fiquei desconcertada, lembro de ter-me arrepiado inteira com tamanha sensação de liberdade, mas não era nada que fizesse os papéis na mesa se perderem pela varanda em busca de um pouso distante. Talvez esse seja o momento de encontrar os quatro ventos. 

2 comentários:

  1. Incorporar a ideia do make yourself não ajudará (de forma alguma) encontrar os quatro ventos.

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  2. Nosso papel está por aí. A pegar ventos imprevisíveis, a queimar no sol dos belos dias e a desmilnguir, um instante após, diante da primeira garoa. Mas se recompõe de forma inexplicável. Frágeis e intensas maquininhas de bater, tipos distorcidos pelos dias. Vivos vencidos por manias.

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