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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pra lá dos ventos de agosto



Pode ainda faltar um mês para a primavera, mas já sinto o frescor das flores se aproximando. As cores mais vivas nas ruas, o perfume inebriante em todos os cantos e esquinas. Pode tudo não ser tão mágico como se anuncia nas propagandas e nas coleções de primavera-verão, mas pelo menos todos estão se esforçando para deixar as vitrines mais belas, mais vivas. É um pouco disso que a gente precisa quando tudo vai ficando cinza demais. Morno demais. Estático e errático como uma estátua de pedra-sabão numa cidadezinha do interior. As pessoas passam, olham e depois de um tempo já nem a notam mais. Vez ou outra alguém se lembra dela para dar uma referência, passar o endereço certo. É como aquela pessoa que você identifica por alguma característica, pois de tão apagada você nem se deu ao trabalho de decorar o nome. "Aquela do cabelo cacheadinho", "uma gordinha que senta naquele computador da esquerda", "o que vem sempre de boné azul". Qualidades poderiam ser destacadas em cores. Amarelo para a vivacidade, para aqueles que te recebem com um sorriso aberto, franco. Azul para quem tem a habilidade incontestável de nos relaxar, aconselhar. Fica o vermelho, o preto e o roxo para aqueles que querem tudo do bom e do melhor, aqueles que idolatram o luxo, que amam o poder. Não que sejam cores ruins ou maquiavélicas, apenas características que alguns têm em maior evidência. E quando a primavera vai chegando a gente encontra de tudo um pouco nas ruas. Uma mistura que chega a ser brega, mas que convence nas revistas. 
Da primavera eu quero mesmo só a liberdade para ser feliz. Quero poder apontar mil cores em mim e ter orgulho disso. Cansei de sentir o amargo de agosto, embora eu nunca tivesse o experimentado com tanta voracidade. Não quero mais essa temporada de ventos que atrapalham o cabelo e os destinos. Que muda tudo de rota, que faz as folhas caírem antes da hora e que despertam a tempestade em nós. 


PS. Foto de Ana Clara Otoni.

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