Páginas

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cantando a alegria



Inspirada com o clima carnavalesco e com o fim da leitura da Chico! (edição especial da revista Bravo! à obra literária do meu amado Chico Buarque) resolvi brincar um pouquinho com as canções dele que remetem ao Carnaval. 


Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Quando o Carnaval Chegar, 1972, Chico Buarque. A música foi composta por Chico para o filme homônimo de Cacá Diegues. No elenco estavam Nara Leão, Maria Bethânia, Hugo Carvana, Antonio Pitanga, além do múltiplo Chico Buarque. 


Hoje, eu quero
Fazer o meu carnaval
Se o tempo passou, espero
Que ninguém me leve a mal

Amanhã ninguém sabe, 1966, Chico Buarque. O trecho que referencia ao título da música "amanhã ninguém sabe" refere-se a possibilidade do dia de hoje, a capacidade de se mudar o hoje e fazer uma festa, comemorar o carnaval. Já que "o amanhã ninguém sabe..."


E então
Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir

Cordão, 1972, Chico Buarque. A música está presente no álbum Construção que traz ainda parcerias de Chico com Tom Jobim e Vinicius de Morais e Toquinho.


Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Sonho de um Carnaval, 1965, Chico Buarque. A temática que Chico desenvolve nessa canção trata da efemeridade do carnaval (e em uma leitura mais profunda da própria felicidade), que termina com a Quarta-feira de Cinzas. 


Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Dura na queda, 2000, Chico Buarque. Música composta para o disco Carioca, porém a semelhança com outra canção sua "Ela desatinou" fez com que Chico ficasse receoso em colocá-la no álbum. Durante uma viagem a Londres ele encontrou com a cantora Elza Soares, que logo emendava um trecho dessa canção "Elzaaa desatinou..." Em outra ocasião, uma produtora pediu para Chico uma música para homenagear a cantora em um musical especial, com o curto prazo para compor e como ele nunca gostou de escrever em tais circunstâncias, ele se lembrou de "Dura na queda" e a entregou para que Elza gravasse a canção em 2002.A canção ficou conhecida também como "Ela desatinou 2". 


Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
Bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando

Ela desatinou, 1968, Chico Buarque. O fim do carnaval deixa o gosto de quero-mais, os ouvidos ainda ecoam a bateria e os pés ainda querem sambar, mas com a chegada da Quarta-feira de Cinzas, tudo acaba e tem gente que, de fato, desatina. 


Para ler mais sobre o Chico Buarque

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Propriedade

A agitação do seu sangue ao toque das minhas mãos me coloca em um estágio de excitação, como se me impedissem de andar descalça ou de recortar sistematicamente todas as propagandas de climatizadores de ar. Não há incômodo em dizer que a sensação não é de amor, nem de afeto. Apenas o egoísmo clássico que você anuncia em todas as discussões que por hora tivemos. Mas essa excitação focaliza todos os quatro sentidos num único propósito de te aprisionar. É aí que ensaio todo o planejamento para montar uma cela personalizada para o seu tamanho, em composição de vidro e com um sistema de vedação biométrico. As alterações que o toque em você me causam não são puramente orgânicas, causam um mal físico e individualizado. Não estou convencida se essa excitação provoca um comportamento venenoso ou, se é apenas uma alteração de humor passageira. Se pelo menos o seu gosto não me entorpecesse, eu poderia simplesmente abandonar a minha fixação por climatizadores de ar e desistir do sistema in vitro. A parte positiva do procedimento é que nenhum ser estranho poderia invadir seu corpo, afinal, apenas o meu toque romperia o sistema de vigilância. Porém, nem assim eu me daria por satisfeita. Reforço, a sensação não é de afeto, mas puramente de um prazer peculiar que só é aflorado com a observação da sua respiração seca, do seu olhar mudo e de sua rebeldia. Eu não oculto essa vontade primitiva de te consagrar como minha exclusividade. Queria mesmo era cravar meu nome em cima da sua alma e tornar legítimo dizer que você é sim propriedade minha.