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terça-feira, 28 de abril de 2009

Da velha infância...


O que dizer sobre os meus pensamentos longínquos e constantes em um lugar não tão distante assim. Do tipo “quando alguma coisa acontece no meu coração...”.
E não é apenas Caetano que me inspira, mas algo que vem de longe, lá de longe.
Dos tempos das brincadeiras de menina, das visitas à família nos finais de semana, das risadas e fotos, dos cartões de aniversário. Das piadinhas pela janelinha nos dentes, das chateações típicas da idade. Da amizade. Do reencontro, da descoberta de um novo sentimento, dos encontros, dos bancos da escola, das festas, das cartas e textos, das músicas e da nossa Velha Infância.
Um turbilhão de emoções e sentimentos, que por muito tempo incompreendido fez de nós pessoas opostas - ou não. Buscamos a nós mesmos por diversas vezes e a sua prepotência (ou talvez, nossa) fez com que ano, após ano criássemos uma distância astronômica entre nós.
Eis que um dia, porém, o contato é refeito, as novidades compartilhadas, os sonhos ditos e muita, muita coisa ficara incompreendida, posta no ar. Sutilezas de vírgulas, reticências vãs que por si só já diziam muito. De nós. Dois opostos de uma infância em comum. Duas faces avessas do mesmo vestido dourado. São peculiaridades fatais que abrem abismos entre eu e você. E o presente pode construir uma ponte gigante. Pode unir-nos pra sempre, talvez. O fato de pensar assim não me mata, não me dói. Não por acaso muitos poetas e cantores já diziam: um nó na garganta e um aperto no peito. Os pensamentos invadem, não pedem mais licença, estão loucos, desvairados. A angústia profunda das recordações em cores reprisa diariamente o mesmo filme. Próximo do fim tudo desbota e volto para a minha realidade em branco e preto. Invadida pelas emoções antes contidas, desespero-me para escrever todos esses incômodos - que me assaltaram nos elevadores, becos e curvas. Que tomaram meu prazer pelas pequenas coisas. E fizera de mim uma pedinte, carente e solitária.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ponte aérea


"Mas não, mas não. O sonho é meu e eu sonho que deve ter alamedas verdes a cidade dos meus amores"

Enriquez/ Bardotti /Chico Buarque



Mas é que eu moro aqui e não lá. Nunca pedi licença do trabalho e embarquei de vez. A viagem poderia não compensar, e eu moro aqui e não lá. Arriscar poderia ser um tiro no pé ou um acerto no coração. Sem volta, sem passagem. Fico aqui, porque lá a cidade é cinzenta e fala alto. Aqui as montanhas me protegem do caos, da poluição e dos meninos maus. Lá tudo seria um risco, inclusive nós. Reviver infâncias, rever fotografias são para os saudosistas e não para nós. Temos planos e planos. Cada um em sua cidade ideal, tentando fazer sua glória, seu caminho. Mas eu moro aqui, onde o trem passa e eu não vejo, onde o pão-de-queijo é só de padaria, onde não tem desconfiança que não seja nata e não há insegurança que não seja plena. No seu mundo metrópole, cada cara no mano a mano faz um trampo pra viver. E uma distância de tempos, destinos e vidas faz com que eu more aqui e não lá.